Sazonalidade na hotelaria: Como combatê-la de forma rentável
Manoel Carlos Cardoso:
“Nosso maior aliado é o clima do Cerrado brasileiro, pois enquanto alguns
destinos dependem do verão ou inverno para aumentar o número de visitantes, nós
contamos com calor o ano todo e poucos dias de chuva”
O mês de maio registra o
pior desempenho dos resorts no Brasil e a maioria não consegue ocupação acima
de 40% neste período. Já os hotéis corporativos sentem os efeitos nos meses de
dezembro e janeiro. Mas juntos procuram soluções para serem rentáveis mesmo em
período de baixa ocupação
O mês de maio chegou e
trouxe com ele uma velha preocupação para a hotelaria brasileira.
Historicamente é um mês de pouca movimentação em diversos setores do trade
nacional e o que registra o pior desempenho dos resorts durante o ano todo. É
muito comum neste período, companhias aéreas e agências de viagens promoverem
grandes promoções para atrair clientes e, assim, aquecer mais o turismo
nacional. Um dos motivos desta sazonalidade é a proximidade desta época com
feriados prolongados, como o carnaval, páscoa e tiradentes, além disso, maio
fica a um mês das férias escolares.
O sonho de todo hoteleiro é
ter uma grande movimentação de hóspedes no mês de maio usufruindo de todos os
serviços oferecidos, mas a realidade é outra e o setor de lazer é o que mais
sofre com a sazonalidade deste mês. Combater a sazonalidade se torna essencial
e uma das alternativas adotadas por alguns empreendimentos é a captação de
eventos nos períodos de baixa temporada. De acordo com dados da Resorts Brasil,
os resorts brasileiros registraram no ano de 2012 cerca de 36,6% de ocupação no
mês de maio, ou seja, quase ¾ do empreendimento ficou vazio. A expectativa da
entidade é que neste mês de maio a taxa de ocupação alcance 40% e uma das
explicações está no feriado de Corpus Christi, que será no dia 30 de
maio.
Na média histórica, a taxa
de ocupação dos resorts no Brasil não passa de 55% de média acumulada ao ano,
mas existem exceções, como o Rio Quente Resorts, que consegue romper a barreira
de 70% de ocupação ao ano e se manter rentável durante a baixa temporada.
Apesar de estar localizado na Região Central do Brasil, longe do Litoral, onde
se encontra a maioria dos resorts no Brasil, o Rio Quente possui um excelente
aliado: o clima. Enquanto alguns empreendimentos dependem do clima quente de
verão para atrair hóspedes, ele conta com o clima quente do cerrado brasileiro
praticamente o ano inteiro.
O clima é o vilão?
A programação variada também
contribui para a rentabilidade do negócio mesmo em períodos em que o resort
registra queda na ocupação. “Existem vários fatores que contribuem para sermos
um sucesso de público. O clima é um deles, pois enquanto alguns destinos
dependem do verão ou inverno para aumentar o número de visitantes, o complexo
oferece calor o ano todo e poucos dias de chuva. Obviamente, em períodos fora
da alta estação, obtemos uma queda natural na ocupação. Mas conseguimos manter
excelentes índices em função de promoções diferenciadas para hóspedes e
visitantes, além de um rico calendário de eventos temáticos, que atraem grupos
específicos, como os Festivais Italiano, Japonês e Alemão, Encontro de
Motociclistas, Noites Douradas e torneios de Tênis. Sempre com uma programação
abrangente, incluindo a participação de conhecidos artistas e bandas musicais,
temos sido bem sucedidos na missão de cativar o público”, comenta Manoel Carlos
Cardoso, Diretor de Experiência Marketing e Vendas do Rio Quente Resorts.
Interferência de fatores
climáticos
O clima pode contribuir tanto
positivamente quanto negativamente no sucesso de ocupação de um empreendimento
hoteleiro e os localizados na região Sul do Brasil sabem o quanto as condições
climáticas podem interferir. Geralmente, o turista tem a ideia de que o clima
nesta região é sempre frio neste mês de maio, porém, em alguns locais
litorâneos da região, é possível encontrar um clima agradável. O Hotel Beira
Mar Itapema está localizado a poucos metros do mar e é o terceiro pólo
turístico de Santa Catarina, com acesso privilegiado às principais atrações do
estado catarinense como o Parque Beto Carreiro World (45km), Balneário Camburiú
(15km), Florianópolis (60km) e Blumenau (70km). Mesmo assim sente forte os
efeitos da sazonalidade, que começa no mês de maio e dura vários meses.
Dentre as principais ações
que o empreendimento realiza para combatê-la, estão parcerias com as OTA’s —
Online Travel Agency, captação de eventos, dentre outras. “A região Sul é a que
mais sofre com a sazonalidade nos resorts e hotéis de lazer, pois o turista
vincula o frio que ocorre na serra com a região litorânea, e na verdade não é
isso que acontece, pois sempre temos um clima bom até o mês de maio. Para
mantermos a rentabilidade de nosso negócio trabalhamos na captação de eventos
que viabilizam alguns meses deste período crítico. Também apostamos nos grupos
da melhor idade: para se ter uma ideia, no último mês de março que já é
considerado baixa temporada, tivemos uma ocupação de 80%, somente com esse
segmento. Temos também um restaurante aberto ao público, onde realizamos
algumas ações de marketing focadas na população local e com isto viabilizamos a
manutenção da equipe de A&B durante o ano todo, ao mesmo tempo em que temos
um treinamento constante neste setor”, afirma Luiz Carlos Nunes, Diretor do Hotel.
Segundo ele, o setor de
turismo brasileiro deveria contar com mais projetos de incentivo para que o
brasileiro viajasse mais e enquanto ele foi Presidente da ABIH Nacional —
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de 2002/2004, deu uma grande contribuição.
“Demos entrada no Senado no Projeto Lei 0488/2003 que cria o Vale Hospedagem.
Este Projeto já foi aprovado em todas as comissões e está desde 2010 aguardando
para ir ao Plenário do Senado para aprovação. Através dele as empresas poderão
conceder um incentivo aos seus colaboradores e abater em até 5 % do Imposto de
Renda a pagar. Com esta ação, além de proporcionar ao trabalhador a
oportunidade de descansar nos hotéis e conhecer o seu País, irá aumentar muito
a ocupação dos empreendimentos em baixa ocupação, pois o mesmo só será válido
para estes períodos”, enfatiza Nunes.
Custos Operacionais
Uma das despesas mais
elevadas nos resorts brasileiros é a energia elétrica e independente da época
do ano, este custo operacional sempre existirá. Mesmo com pouco hóspede não se
pode sair apagando as luzes de áreas de lazer, como quadras de esporte, ou mesmo
áreas comuns. A recente redução disponibilizada pelo governo federal no Plano
Brasil Maior ainda não pôde ser sentida pelos hoteleiros, mas irá fazer grande
diferença, assim como a desoneração na folha de pagamento já faz. A Resorts
Brasil, por exemplo, tem estudado a hipótese da compra coletiva de energia
elétrica entre os empreendimentos. De acordo com o Presidente, Dílson Fonseca,
esta questão está na frente das discussões da entidade em conjunto com outras
instituições da classe hoteleira, em articulação com os Ministérios do Turismo
e de Minas e Energia.
Fonseca aponta também a
flexibilização trabalhista como um fator de rentabilidade para o resort nos
períodos de sazonalidade. A política do banco de horas, por exemplo, favorece o
setor hoteleiro. Segundo ele, “A atual legislação trabalhista não permite a
flexibilidade desejada para que os empreendimentos possam contar com seus
colaboradores com mais horas em períodos de alta temporada e menos horas em
baixa temporada, como acontece nos cruzeiros marítimos do Brasil. Essa
legislação é aplicada nos Estados Unidos e Espanha, países onde o turismo é um
dos pilares do PIB local. Essa é uma reivindicação do setor, para que tenhamos
maior competitividade. Se pudermos contar com a diminuição dos custos com
energia elétrica e a flexibilização do regime de trabalho, iremos dar um grande
passo”, complementa o executivo.
A contratação temporária
também pode ser a solução para a redução dos custos operacionais durante a
baixa estação, mesmo em hotéis corporativos que não sentem tanto os efeitos de
sazonalidade. Na visão de Emanuel Baudart, Vice presidente Comercial do FOHB —
Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, a contratação temporária favorece a
administração hoteleira durante a sazonalidade. “Se avaliarmos a questão do
ponto de vista da produtividade dos colaboradores, a contratação temporária faz
mais sentido. Por exemplo: A camareira pode trabalhar no hotel no período de
alta temporada e, na baixa, ao invés de ter que estar no hotel mesmo sem ter necessidade,
ela fica livre para realizar outras atividades remuneradas, mantendo-se
produtiva. A contratação temporária é uma solução que não só desonera o setor
no que se refere aos custos operacionais, mas também mantém a população
economicamente ativa efetivamente produtiva, o que é importante em tempos de
pleno emprego”, comenta.
Público Corporativo
Se o segmento de lazer sofre
bastante com os reflexos da sazonalidade, a hotelaria corporativa, sofre pouco,
mesmo registrando baixa ocupação nos meses de dezembro e janeiro. Mas isto é
compensado pela alta temporada dos empreendimentos de lazer. De acordo com
dados do FOHB, a média de ocupação dos hotéis associados à entidade foi de
67,17% no ano de 2012. Enquanto os resorts registraram 36,6% de ocupação no mês
de maio de 2012, os hotéis do segmento corporativo atingiram 67% de ocupação.
“Os hotéis das redes associadas ao FOHB possuem uma dinâmica diferente quanto à
taxa de ocupação. Pela preponderância de empreendimentos que atendem o público
corporativo, a taxa de ocupação tradicionalmente registra queda nos meses de
dezembro, onde a ocupação gira em torno de 55,81%, e janeiro, com 60,82%”,
frisa Baudart.
Segundo ele, a entidade
costuma incentivar seus associados a combaterem a sazonalidade de maneira rentável
a partir da prática do Revenue Management — gerenciamento de receitas, onde se
aplica uma diária maior em determinados períodos de alta ocupação para
contrapor ao período de baixa ocupação. “No Brasil, a aplicação desta prática
ainda é tímida, o que se pode explicar pelo fato de que a hotelaria de rede,
que é onde as práticas internacionais se iniciam, representa 27% das UHs do
setor no Brasil. Por meio do eixo de Desenvolvimento do FOHB, em que boas
práticas do setor são homologadas, estimula-se que os associados tenham uma
área de revenue management para administrar o deságio da perecibilidade do
setor”, explica Baudart.
Mudança de vocação
O Rio de Janeiro é a
principal porta de entrada de turistas estrangeiros no Brasil e a cidade que
registra a mais alta taxa de ocupação hoteleira, mas ao contrário do que muita
gente imagina, o segmento de lazer representou apenas 29,94% de ocupação na
cidade no último ano. Por sediar um grande número de empresas de grande porte e
estatais, como a Petrobrás, a vocação da capital fluminense mudou nos últimos
anos para eventos, pois o público de lazer se concentra apenas nos meses do
verão. De acordo com dados da ABIH/RJ — Associação Brasileira da Indústria de
Hotéis do Rio de Janeiro, cerca de 36,17% dos room nights foram vendidos por
motivo de trabalho ou negócios, somados a 12,18% de hóspedes que visitaram a
cidade para participar de convenções, congressos ou feiras, totalizando 48,35%
de ocupação para o segmento corporativo.
A malha hoteleira fluminense
consegue manter-se rentável o ano inteiro devido aos grandes eventos
realizados. Na média de ocupação anual da capital gira em torno de 80%. Apesar
de ter o clima quente durante grande parte do ano, o turismo de lazer é mais
sazonal, concentrando-se somente nos períodos de férias e de verão. Já o
público corporativo acaba sendo menos sazonal, mantendo os níveis de ocupação
altos durante o ano todo. “Com os grandes eventos no calendário, a cidade
está naturalmente em evidência e se posicionando entre os principais destinos
turísticos mundiais. Além disso, estamos recebendo grandes investimentos em
infraestrutura e a rede hoteleira está se modernizando em equipamentos e
serviços para atender o crescimento da demanda. Nossa entidade também está
apoiando a Embratur e o Rio Convention no direcionamento das campanhas de
marketing no exterior para atrair mercados emergentes ainda não consolidados
como emissores de turistas pro Brasil, como a China”, revelou Alfredo Lopes,
Presidente da ABIH/RJ. Para ele, a sazonalidade deve ser combatida através de
um forte trabalho de divulgação dos mercados emergentes, como os Brics, e com
um sólido calendário de eventos corporativos e de lazer disponíveis.
Fatores externos
Como se já não bastasse a
sazonalidade para os hoteleiros brasileiros se preocuparem, os fatores externos
como as crises econômicas de países europeus, asiáticos e até mesmo os Estados
Unidos, afetam a taxa de ocupação. A Hotel Invest divulgou recentemente na 5ª
edição do Panorama da Hotelaria Brasileira dados que apontam que a ocupação
média dos hotéis brasileiros teve queda de 4,1% no ano de 2012. De acordo com o
estudo, essa baixa é resultado do baixo crescimento do PIB — Produto Interno
Bruto, que acabou afetando o volume de viagens de negócios e eventos para empresas.
O mercado hoteleiro mundial também acabou sofrendo com a baixa ocupação por
conta das crises nos Estados Unidos, Ásia e na Europa. Além do pequeno
crescimento do PIB, outros fatores também são responsáveis pela queda na
ocupação dos hotéis, como por exemplo, a superoferta de quartos devido à
inauguração de novos empreendimentos. Além disso, a alta dos custos
operacionais e de mão de obra também são responsáveis por isso.
Fone: http://goo.gl/X9CNM
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